11.3.16

Marcelo, festa e simbolismo? Tem que haver mais.

Marcelo investiu em marcar toda a sua primeira semana como Presidente de simbolismo e festa.
No simbolismo, temos a posse tão frugal nos convites a entidades estrangeiras, desvalorizando a "velha aliança" e a aliança atlântica, trocadas por uma cerimónia ibérica e uma evocação da infância em Moçambique. E temos ainda a interconfessionalidade da cerimónia na mesquita a substituir o laicismo clássico da função.
Na festa temos tudo o resto, desde a jornada tão diligentemente organizada pela Câmara de Lisboa ao rap portuense.
Esta primeira semana fez-me lembrar uma velhinha canção de José Cid ("no dia em que o rei fez anos"). Mas não acredito que seja ela a definir o mandato presidencial.
Já escrevi que me parece de destacar as referências à Constituição no discurso de posse. E não paro de pensar que o Presidente tem encenado recorrentemente o seu papel de Professor de Direito. Primeiro falou do aluno Antonio Costa. Depois fez campanha na despedida da faculdade. A seguir foi do seu átrio que discursou como Presidente eleito. No discurso de posse referiu a sua especial responsabilidade de professor perante a Constituição.
Há por aí quem desconfie de uma agenda reaccionária de Marcelo. Há quem acredite que ele quer apenas popularidade, muita popularidade. Mas eu acho que ele é mais inteligente que isso é vai usar a sua inédita relação com o eleitorado sem qualquer mediação nunca vista (com excepção talvez de Eanes) para algo mais.
Não vai ser como o bonacheirão segundo (sendo Soares o primeiro e o paradigma) que Marcelo encontra o lugar na história que lhe escapou, quer como Presidente da Câmara de Lisboa, quer como Primeiro-Ministro. 
O Professor tem que ambicionar mais. Já não vai saltar para a Europa nem para o Mundo. Não acredito que se mantenha ao nível de fazer mais manchetes para os jornais (isso fazia há mais de trinta anos).
O mestre dos factos políticos tem que se despedir em grande. 
Pode ser que a história não lhe dê essa hipótese, mas o meu palpite é o de que veremos o que Marcelo quer da Presidência quando (ou se) a tensão entre cumprir os compromissos com Bruxelas e manter de pé a coligação que governa Portugal evoluir para explosão. E nessa altura voltará a complicar a vida quer ao PSD quer ao PS.

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