8.9.17

O nosso racismo nocturno

Se um dia me dissessem à porta de uma discoteca "pagas mais porque tens gente mal vestida e pretos no grupo", o que faria? O que esperaria que os meus amigos no grupo que queria divertir-se fizessem?
A pergunta  não é meramente hipotética. Ouço histórias deste verão de Lisboa ao Algarve com esta narrativa e  vejo a situação racionalizada por um amigo negro com um "deixa lá, o nosso problema não é dinheiro" e por várias pessoas "que pagaram mais" com um "queriamos divertir-nos e deixaram-nos entrar, não faz mal".
A situação já não está nos não-ditos da ditadura dos porteiros de discoteca ou nos ditos de boca em boca entre clientes. É tudo explícito.
As pessoas com quem converso sobre o tema não são racistas e ficaram desconfortáveis. Mas ficaram noite dentro. Não mudaram de poiso. Não deixaram de lá ir. Não fizeram boicotes, nem apelaram ao boicote de outros. E eu o que teria feito?
O Estado, que deve ter quem leia notícias, não lançou nenhum aviso à nação contra a discriminação racista nos "locais de diversão nocturna". Não conheço nenhuma ação fiscalizadora e nenhum efeito dela, ou sequer nenhum embaraço que tenha sido causado aos espaços de que se queixam aqueles que ouço. Será desatenção minha?

"É a noite", dizem-me. Como se as leis e os princípios tivessem horário de recolher ou devêssemos aceitar que há "santuários" para o racismo. A mim tudo me parece estranho na naturalidade com que vejo este fenómeno ser vivido. Parece-me  incorporação do racismo nas nossas vidas.

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